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Modo Divinamente
O Modo Divinamente, que descrevo aqui, é uma proposta de busca constante pelo aperfeiçoamento do nosso posicionamento e de nossas entregas em qualquer situação da vida. A principal maneira de alcançar esse estado é por meio da re-Humanização.
Atualmente as correntes de uma cultura escravista podem nos aprisionar e nos privar da plenitude do viver. Isto inclui afazeres sem sentido e um desligamento da alma. Não obstante, aparecem como consequência estados precários de encantamento consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
É fundamental relembrar que ser humano não é coisa, não é bem de consumo; por isso é preciso enxergá-lo em sua totalidade e perpetuidade. Uma vez existimos, cada um de nós e todos juntos fazemos parte desse conjunto da humanidade. A participação de cada pessoa ficará marcada para sempre.
Em tempos que as pressões por resultados sempre satisfatórios dominam, principalmente nas nuances em que o sucesso é medido pela conta bancária, likes, aplausos e outros menos superficiais – dopamina efêmera -, vemos um cenário preocupante. Notícias falsas e de fracassos recebem muito mais consumo e engajamento do que quando sobre vitórias, boas práticas e verdades.
Essas gotas diárias de negatividades infiltram-se em nosso ser e contaminam nossa mente, que nem sempre está imune contra esses patógenos informacionais ou melhor, desinformacionais. Não sugiro a viver na alienação; pelo contrário ter consciência do contexto é fundamental para projetar novos modelos de vida, sociedade e soluções.
De modo geral, percebo que a sociedade encontra prazer na sofrência, enquanto as misérias são cada vez mais normalizadas. Tudo isso contribui para que muitas pessoas permaneçam em um estado de sofrimento contínuo ou em uma espécie de autodefesa intermitente.
O ser humano não nasceu para sofrer, nem para apenas sobreviver, mas para ter uma vida em abundância. No Cristianismo, o próprio Mestre justifica sua vinda: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).
Fico a refletir sobre a contradição entre essa promessa e a realidade de milhões de pessoas, bem como as pregações de muitos “líderes”. É possível ser diferente, alcançar e construir o tão sonhado mundo melhor?
Eu acredito fielmente que sim. E é nessa diretriz que busco operar no Modo Divinamente—um caminho de transformação que compartilho aqui.
Estar no Modo Divinamente é sentir-se plenamente humano (não infalível). Essa plenitude pode, ser de alguma forma, ser compreendida como felicidade. Para mim, felicidade é estar e sentir-se em um estado pleno — alma, mente e corpo.
Contudo, essa experiência não deve ser restrita a um único indivíduo. A verdadeira plenitude envolve todos os seres vivos, desde os mais próximos até os mais distantes. Inclui também todas as espécies, o planeta e o universo, pois trata-se de uma condição em cadeia e comunhão.
Não se trata apenas de estar presente, pois a presença, por si só, é fugaz e relativa. O essencial é uma presença conectada ao passado e ao futuro, um pertencimento atemporal.
O teólogo e filósofo Agostinho de Hipona afirma que a felicidade é o sumo bem e consiste em encontrar Deus, a fonte suprema de plenitude e satisfação. Essa visão ressoa profundamente com a essência do Modo Divinamente.
Outro ponto fundamental é que a plenitude não é um estado individual, mas também um resultado do coletivo. Somos interdependentes, não autossuficientes. Reconhecer a importância do outro é uma condição essencial para alcançar a plenitude.
Particularmente, até prefiro o termo “plenitude” em vez de “felicidade”, devido às subjetividades que esse conceito carrega. E ao estado de plenitude—essa harmonia profunda entre alma, mente e corpo—dou o nome de “Modo Divinamente”, que pode ser compreendido como o já conhecido estado de graça.
Faço muitas reflexões sobre o cálice da vida. Em uma delas, ao pesquisar, descobri que o significado de alma está ligado a ânimo. Isso me fez perceber que, mesmo nas amarguras, ao nos conectarmos com a alma, encontramos forças para nos levantar e agir.
Até porque otimismo não é ilusão de um final bem-sucedido ou, como muitos tratam, negar a dureza de algumas situações, mas a predisposição de acreditar e entrar em ação para mudar a realidade: proatividade ou reatividade positiva, esperançosa.
Aqui vejo o ponto-chave: estarmos em movimento, e este precisa ser caprichado, ilustrado, iluminado, embelezado. A vida é uma obra de arte inacabada, e cada sopro é um toque ou retoque de aperfeiçoamento.
Trabalhei na e pela APAE por 10 anos, e um dia me pediram uma reflexão sobre a atuação. A partir dessa experiência, defini que nossa passagem por uma comunidade, empresa e, de maneira geral, pela Terra, é parecida com a nossa galáxia Via Láctea, no sentido espiral. A cada nova conexão, interação, ampliamos nosso alcance no sentido evolutivo.
Um dia, solicitei ao meu filho uma tarefa e achei lindo quando ele disse: “Dei o meu melhor, mãe.” Isso marcou para mim, e conversei sobre isso com ele. A partir daí, nasceu a ideia de escrever sobre a melhor entrega possível. Precisamos buscar estar, fazer e ser o melhor em qualquer que seja a situação da vida. Na Bíblia, em Gênesis, na narrativa da criação, encontramos a expressão da entrega de Deus no final do dia: “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom!!!
Tenho percebido que este é um dos segredos para manter-se em plenitude: viver cada dia com o desejo de avançar, de evoluir e de entregar para si, para o outro e para o ambiente algo bom. Não intenciono ressaltar o perfeccionismo, mas o zelo em fazer tudo com alma, pois a alma é sábia e busca a excelência.
Gosto muito do termo perspectiva, porque traz o sentido de alcance da visão. E quando vislumbramos uma nova realidade, uma transformação, seja qual for, essa entrega vem com mais sentido. A entrega reflete o propósito e a intensidade de amor dedicado para compartilhar nossos dons e exercer a missão.
Lembro-me de uma expressão que ouvi em um encontro de jovens: “Jesus Cristo foi tão humano, de tal modo que só podia ser divino!” Exercer a humanidade é um Estado de Graça, é o ponto de chegada onde percebemos nossa imagem e semelhança com Deus e que o outro também o é. Só a partir de sermos autenticamente humanos conseguimos avançar para o divino.
E os outros são todos, não são apenas aqueles que selecionamos pelas simpatias, o nosso público-alvo escolhido pelo nosso sistema próprio de julgamento, às vezes falho e mesquinho. Aliás, uma das atitudes mais desumanas é o julgamento cruel e desenfreado. Mas todos os outros, a quem somos fãs e a quem não temos tantas afinidades, também fazem parte dessa jornada.
Julgar é necessário para o senso crítico, senão nos tornamos ingênuos e marionetes. Contudo, ele precisa ser baseado em amor e verdade. O julgamento intrapessoal justo deve estar pautado na confiança de que posso ser e fazer melhor do que ontem, hoje, tendo em vista um projeto ainda melhor para o futuro.
Nada deve ser feito meramente por fazer; genuinamente, façamos por ser bom e aperfeiçoemos com nosso toque especial, que, de tão bom e humano, será divino!
Falar em Deus sem agir à Sua maneira é uma ofensa!
Por fim, vale lembrar: antes do Divinamente, vem o Humanamente!
Ative o MODO DIVINAMENTE em sua vida!